joaquim cesario de mello

SEU MÁRIO

 

Conheci Seu Mário

na segunda metade do século passado

 

Ele tinha uma banca de revistas

que ficava no fim da rua da infância

no meio da esquina em que naquela época

para o outro lado eu nunca dobrava

 

Seu Mário era um homem velho

um pouco mais velho do que hoje sou

de cabelos grisalhos desgrenhados

parecidos com sua eterna camisa

branca, encardida e suada

e tinha um dente postiço de ouro

no lugar do segundo incisivo superior

que em dias de sol sempre brilhava

e ele orgulhoso sorrindo nos mostrava

 

Nas tardes após os deveres de casa

saía correndo para onde estava Seu Mário

comprava figurinhas de álbum

confeitos, chicletes e bombons

e quando as moedas não davam

ele me deixava ler os gibis de graça

 

Invejava Seu Mário

que passava os anos cercado

de Tios Patinhas, Mickeys

Bolinhas e Luluzinhas

chupando o adocicado da vida

por detrás daquele dente dourado

(Quando crescer

quero ser como Seu Mário)

 

Até então não sabia

que as tardes, os meses, os anos

que até os séculos passam

e depois que a esquina do fim da rua me dobrou

eu nunca mais vi Seu Mário

com sua camisa grisalha

a cabeleira toda arruçada

e o dente de ouro na frente estampado

 

Para onde foi Seu Mário?