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Débora

A sós

a louça suja ainda está na pia

posso ouvir o tilintar da gota de agua que pinga da torneira

desde de outrora, eu não sei a hora, o tilintar.

que dia faz quarenta dias?

naquele outro dia eu abri os olhos e não vi ninguém.

hoje eu abri os olhos e não escutei o trem;

as ruas andam mudas,

as calçadas imundas estão incrivelmente mais limpas.

outra vez abri a janela pra não ligar a tevê,

há uma devastação invisível que atinge a mente e o coração aos quem vive

aos quem se vão; atinge translucidamente a fragilidade.

mais uma vez o tilintar da gota,

mas dessa vez descompassado ao coração.

aos quem se vão não há despedida.

aos quem fica depredação do emocional.

ontem foi meu aniversário,

não houve abraço, através de uma tela os parabéns não foi opção,

era a única escolha.

a fatia ao vizinho eu não pude levar,

pois na calçada eu pude pisar.

ao abrir a porta o invisível atinge

felicidades aos quem se vão;

aos quem fica, a esperança por um fio.