joaquim cesario de mello

UM POEMA NO ESPELHO

 

Hoje eu vi um poema no espelho
ele estava escondido por detrás dos olhos
despidos dos óculos de manhã logo cedo

Era feito de versos guardados nas costelas
onde os minutos se calcificam grisalhos
no acumular das lembranças e do tempo

Na cacofonia desafinada dos meus interiores
descubro inusuais sinfonias que sequer sabia
haver se tornado esse amontoado de versos
que trago espalhados em mim por dentro

O poema que se revela no espelho
não se parece com meu rosto
que dali retiro nas manhãs que saio
como se fosse uma máscara colada
ao vulto cujo mundo se acostumou a conhecer

Um poema assim tão verdadeiro
que me mostra a me exibe por inteiro
necessita ainda ser composto e escrito
mas antes é preciso atravessar o espelho