Jose Kappel

Minha Companheira Sem Nome

 

O medo avança diante da noite.

Eu, sofrido e pávido, me escondo entre as poucas luzes que me restam.

As lembranças vão e vem. 

 

Latitudes de amor! 

 

Os sonhos me sacodem toda a noite como se fossem embrulho trocado de Natal.

 
Mas o medo - ah! este existe e, por trás dele,

uma eternidade de perguntas,

cujas respostas não alcancei.


E se as tenho,

tenho lá medo de sufragá-la à minha vista - parte do coração!


Se me escondo, me acham;

só me acham em bolsas de fiapos e solidão.

Se sou fruto-amargo, também

estou farto de rainhas sem reino.


Mesa posta.

Princesas fastiadas de calor e desventuras

me afastam de sua beleza!

 

É quando a solidão bate à porta e não faz mais perguntas! 

 

Uma festa no sozinho acizentado, é uma parte dela.

 

O que ficou, ficou para atrás.

Mas o que vem pela frente é tudo o que ficou atrás. 


De repente, ela vai chegando.

Igual a uma estrela nascida.

 

O que está presente são lembranças,

fáceis de lembrar, trocar e até perder. 


Fáceis e rútilas para chorar. Difíceis de entender!


Até já fui  uma criança de correr e sonhar. 

Não faço por menos, sou forte,

mancebo de dois séculos.

 

Sou guerreiro de duas flechas.

Uma para saudar os nobres,

outra para guardar o caminho da eternidade.

 

Se sou guerreiro, minha tenda velha ficou. 


E se vivo sozinho é porque me acautelo de milagres.

As entradas estão esgotadas para as coisas santas e as portas estão cerradas. 

 

Se ofereço, me negam. Se me compram, compram aos pedaços e meio.

Sou vago caminhante a procura de cachoeiras maravilhosas e pássaros encantados. 

 

Ah! a fadiga! Já estou interditado e premente de esperas. Sou rápido e fugaz.

Atendo todo mundo! Mas na hora de chorar vou para um canto de mais sombras. 

  Onde dorme minha companheira de amor, mas sem nome!