Antonio Luiz

Transitar-te

gosto de esperar estacionado em ti

algo ali, entre o nascente e o ocaso

feito um carro velho em exposição

no veludo asfáltico de uma rua nua

sujeito ao fluxo de tua saliva fresca

e estimulado pelas enzimas ígneas

deixar o latente estado de repouso

para te transitar assim novamente

 

antes de me ter rodando outra vez

invoco de Vênus alguma proteção

o câmbio, que gozou de autonomia

espera, agora, viciado por tua mão

nem a tal inclinação pra esquerda

nada diminui o prazer da incursão

traço contorno em todas as curvas

conheço o tempo de tua distância

 

troco as lanternas por meus fachos

na penumbra, só teus faróis acesos

no caminho, sinais sempre verdes

verde-azulados ou cor de pálpebra

eu não te avançaria de outra forma

pra comer, demoro-me nas paradas

administro a pressa em todo o resto

a estrada é minha, não ultrapasso

 

ocluso por tamanha intumescência

teu túnel é o ponto alto da jornada

lubrificado, como se por lava terna

entro e saio, e vou, e de novo volto

o sentido das mudanças de sentido

faz-se notar em frêmitos na parede

só então eu acelero forte, em riste

e tiro de eito, não ando na reserva