gosto de esperar estacionado em ti
algo ali, entre o nascente e o ocaso
feito um carro velho em exposição
no veludo asfáltico de uma rua nua
sujeito ao fluxo de tua saliva fresca
e estimulado pelas enzimas ígneas
deixar o latente estado de repouso
para te transitar assim novamente
antes de me ter rodando outra vez
invoco de Vênus alguma proteção
o câmbio, que gozou de autonomia
espera, agora, viciado por tua mão
nem a tal inclinação pra esquerda
nada diminui o prazer da incursão
traço contorno em todas as curvas
conheço o tempo de tua distância
troco as lanternas por meus fachos
na penumbra, só teus faróis acesos
no caminho, sinais sempre verdes
verde-azulados ou cor de pálpebra
eu não te avançaria de outra forma
pra comer, demoro-me nas paradas
administro a pressa em todo o resto
a estrada é minha, não ultrapasso
ocluso por tamanha intumescência
teu túnel é o ponto alto da jornada
lubrificado, como se por lava terna
entro e saio, e vou, e de novo volto
o sentido das mudanças de sentido
faz-se notar em frêmitos na parede
só então eu acelero forte, em riste
e tiro de eito, não ando na reserva