Dia e noite, noite e dia,
passa o rio e seus mistérios...
Rio velho, São Francisco,
por esta gente eu suplico!
Ribeirinha esquecida,
do progresso escondida,
rodeada de incerteza.
Barcos parados na espera,
sonhos tontos à deriva,
resignada tristeza,
gente com sede de vida.
Atrás da mesma ilusão
comi poeira na estrada.
Eu percorri muito chão
para, afinal, não ver nada.
Rio calmo, fulgurante!
Dá-me ver com teu olhar
além dos ranchos vazios,
além das ruas desertas,
coisas que ainda não vi.
Povo manso, acolhedor
que apesar da privação,
não se rende à própria dor,
porque seus secretos ais
deságuam longe daqui.
Velho Chico, bentas águas
berçário de abundância,
do leito escuro de mágoas
faz ressurgir a esperança.
Banhei-me com tua luz.
Nesta imersão de beleza,
Enfim, posso vislumbrar:
em tua viagem mansa
ou nas cheias corredeiras,
com tal infinda riqueza
sustentas em tuas margens
a morte e a vida inteira.
E és tu, magia que atrai
mais que o canto da Iara.
Esta gente aqui está presa.
Imagem: Rio São Francisco, por Zaíra Belintani