Nem todo homem é poeta,
nem toda flor tem espinho,
nem toda porta liberta,
nem todo amor tem carinho,
Nem toda prosa é poema,
nem todo acorde é canção,
nem todo amor vale a pena,
nem toda dor é em vão,
Nem toda noite é escura,
nem todo dia tem sol,
nem todo grito é loucura,
nem toda luz é farol,
Nem todo mês é janeiro,
nem todo dia é santo,
nem todo amor é o primeiro,
nem toda lágrima é pranto,
Nem toda lua é minguante,
nem toda noite, escura,
nem todo anel é brilhante,
nem toda flor, formosura,
Nem todo blues é tristeza,
nem todo pano, cetim,
nem todo riso é certeza,
que a dor encontra seu fim,
Nem toda folha é branca,
nem toda linha é reta,
nem toda Florbela Espanca,
nem toda Hortência é atleta,
Nem todo ritmo é baião,
nem toda multidão é uma festa,
nem toda luz Lampião,
nem toda parede tem fresta,
Nem toda nuvem é algodão,
nem todo Mario Quintana,
uns passarinhos, outros passarão,
a poesia conclama,
Nem toda história é verdade,
nem todo gesto, exemplar,
nem Carlos Drummond de Andrade,
nem todo Ferreira é Gullar,
Nem toda chuva é tempestade,
nem toda Adélia é Prado,
nem toda chama que arde,
pode ser dita pecado,
Nem todo homem é poeta,
nem toda flor, floresceu,
nem toda rima, poesia,
gota de sentimento que efervesceu.
Jose Fernando Pinto