joaquim cesario de mello

A CASA DA INFÂNCIA

 

Todos se foram

uns de morte morrida

muitos de velhice

alguns até cedo demais

outros porque se mudaram

e até a eternidade partiu

e nunca mais foi encontrada

 

Do menino apenas tenho notícias

das vezes que lembro dele

ou lendo gibis na soleira da porta sentado

ou correndo atrás das lagartixas

que ali também habitavam

 

Nada mais ficou

nem os móveis, os tapetes e os retratos

mas talvez ainda exista

o pé de feijão que no quintal

um dia lá atrás foi plantado

 

O que resta são as paredes descascadas

olhando o silêncio dos espaços desocupados

e se elas tiverem a memória que tenho

deverão estar agora chorando

lágrimas disfarçadas de mofo e umidade

 

Certa tarde passei na frente da casa

em que todos erámos felizes e morávamos

e vi formigas carregadeiras levando

pedaços da minha infância

que apressado acabei deixando

esquecida por lá no chão em algum lugar

nos tempos da infância das minhas idades