William Aussifran

Escárnio

Rosto com rosto

Podridão com podridão

Até que se prove o contrário

Não há combinações de palavras

 

Desça o longo véu para esconder a ferida

Use e abuse do corpo que lhe foi dado

Para que volte para seu lugar

Nas faces em que se demonstra

 

O corvo, o urubu, a sombra

Já não estão mais aqui

Aqueles que vinham

Já não ligam mais

Aqueles que sempre sabiam

 

Nas facetas da noite

No aviso

No recital

Canta a maldade sem explicação

 

Como um espetáculo

Escrito pela pior mão

Do escritor úmido

Dos olhos fechados

 

Tenebroso luar

Da noite funda e escura

A luz não chega para os que precisam

Não adianta queimar e nem sussurrar

 

Gritam as vozes

Apontam-se os dedos

Com os dizeres explícitos de perversidade

Se mostram sem olhos e ouvidos

 

Na noite rasa e vasta

Escorre o escárnio

Da pele do homem

Cobrindo as chagas