A cobra cascavel tão horrorosa,
e a famigerada cobra jiboia,
se juntaram, as ardilosas,
para fazer uma baita tramoia.
A cascavel baixou seu chocalho,
a jiboia se escondeu no meio do cascalho,
e deram um bote letal e certeiro,
pegando uma cabra e um carneiro.
Foram “enrolos” e picadas,
que as cobras nocentes ou não peçonhentas,
com suas mordidas bem afiadas,
causaram uma grande tormenta.
A cascavel com seu veneno mortal,
e a jiboia com seu aperto fatal,
fizeram uma lambança macabra,
sangrando e matando o carneiro e a cabra.
Diante da confrontação num comparativo racional,
o registro é de um versar poético diferente,
para demonstrar como é o reino animal,
e o consuetudinário das serpentes.
Colocando em um imaginário inteiro,
que até os animais sombrios e rasteiros,
com muita violência e total bruteza,
conseguem matar, sadicamente, suas presas.
A narrativa disso tudo até barbariza,
colacionando a um triste e lancinante roteiro,
em que a morte é o fim da baliza,
da distraída cabra e do desatento carneiro.
A cascavel metaforiza a traição,
a jiboia figura a compressão,
e esse enredo todo, parece um ritual,
identificado à realidade tão humana atual.
É enganador a opinião da vantagem,
muito, também, o desdém no prodígio,
sendo o chocalho uma distensa miragem,
e a constrição, um trivial vestígio.
E na miudeza do fraquejo animal,
sem o consolo e com a indefesa carnal,
carneiro e cabra são vítimas da tortura,
fruto da inveja, egoísmo e desventura.
A aleivosa cobra cascavel vascoleja,
a infamada cobra jiboia sufoca,
o inerme carneiro peleja,
a cândida cabra espoca.
A história desses animais é um aviso,
de que, mais do que tudo, ser claro é preciso,
entendendo que a traição e a covardia,
não deve, nunca, ser prefácio de qualquer biografia.
O ataque tão avassalador e selvagem.
em que o instinto é o feitor de tudo,
não mostra qualquer boa imagem,
sendo o final, uma decisão sem conteúdo.