Marcelo Veloso

CASCAVEL E JIBOIA

A cobra cascavel tão horrorosa,

e a famigerada cobra jiboia,

se juntaram, as ardilosas,

para fazer uma baita tramoia.

 

A cascavel baixou seu chocalho,

a jiboia se escondeu no meio do cascalho,

e deram um bote letal e certeiro,

pegando uma cabra e um carneiro.

 

Foram “enrolos” e picadas,

que as cobras nocentes ou não peçonhentas,

com suas mordidas bem afiadas,

causaram uma grande tormenta.

 

A cascavel com seu veneno mortal,

e a jiboia com seu aperto fatal,

fizeram uma lambança macabra,

sangrando e matando o carneiro e a cabra.

 

Diante da confrontação num comparativo racional,

o registro é de um versar poético diferente,

para demonstrar como é o reino animal,

e o consuetudinário das serpentes.

 

Colocando em um imaginário inteiro,

que até os animais sombrios e rasteiros,

com muita violência e total bruteza,

conseguem matar, sadicamente, suas presas.

 

A narrativa disso tudo até barbariza,

colacionando a um triste e lancinante roteiro,

em que a morte é o fim da baliza,

da distraída cabra e do desatento carneiro.

 

A cascavel metaforiza a traição,

a jiboia figura a compressão,

e esse enredo todo, parece um ritual,

identificado à realidade tão humana atual.

 

É enganador a opinião da vantagem,

muito, também, o desdém no prodígio,

sendo o chocalho uma distensa miragem,

e a constrição, um trivial vestígio.

 

E na miudeza do fraquejo animal,

sem o consolo e com a indefesa carnal,

carneiro e cabra são vítimas da tortura,

fruto da inveja, egoísmo e desventura.

 

A aleivosa cobra cascavel vascoleja,

a infamada cobra jiboia sufoca,

o inerme carneiro peleja,

a cândida cabra espoca.

 

A história desses animais é um aviso,

de que, mais do que tudo, ser claro é preciso,

entendendo que a traição e a covardia,

não deve, nunca, ser prefácio de qualquer biografia.

 

O ataque tão avassalador e selvagem.

em que o instinto é o feitor de tudo,

não mostra qualquer boa imagem,

sendo o final, uma decisão sem conteúdo.