É noite, e as sombras
desenham folhas entrecortadas,
Na paisagem cinzenta
que o crepúsculo pinta em minha mente.
Desce a correnteza
rangendo sob meus pés descalços,
Nunca ouvira antes
um rio de lágrimas, tão suave,
Chorar intensamente
pela ranhura de seus pensamentos...
Pobre alma incandescente
confidenciando seu amor,
Às mudanças constantes
das areias corroídas do tempo,
No ouvido ansioso
de sua própria recordação,
Como um cântaro,
Que, absorto em seu conteúdo,
Seduz a sede dos mares
congelados no inverno,
Com a vida que se desprende
da escuridão de seus medos,
Suspensa pelos fios dourados
dos pequenos raios de luz.
Deves, com suas asas esmaltadas,
Libertar-se da prisão,
Pois dentro de ti existe um brilho
que o próprio sol gostaria de ter,
Algo que me foge o significado,
mas causa um prazer inusitado,
Que sinto em meu intimo,
e me recuso a crer.
Como se eu pudesse me desalojar
dos dias submissos,
Ajoelhar-me,
Acarinhado por uma onda refrescante
de sua ternura,
E descobrir que existe vida
além do vazio ar que inspiro,
Ao tecer o caminho pela noite escura
que está dentro de mim,
Semeando lentamente
teu alvorecer que não tem fim.
\"A cigana adormecida\" (La Bohémienne Endormie), quadro de Henri Rousseau de 1897. É provavelmente a sua pintura mais célebre, não só pela sua perfeição estética, como também por antecipar claramente o surrealismo.
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