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Rui Ferreira

Estranho costume

Que estranho costume

ter este azedume

por alguém que não conheci.

Estar onde nunca estive,

Viver o que nunca vivi.

Solitário, observo

Na multidão, não enxergo

Na vida, não vivo

Sou seguido, mas não sigo.

Na infelicidade sou feliz

Sou árvore sem raiz

Água que não sacia

Ilusão que não existia.

Faço ouvidos moucos

Tenho trejeitos loucos

Razões irracionais

Defeitos por demais.

Durmo acordado

Sou um vivo finado.

Inteligentes são os outros

Burros não são poucos

Que alegres e contentes

passam a vida a mostrar os dentes.

Estendem a mão, por caridade

anseiam por promiscuidade

Procuram reconhecimento

lambendo cus sem lamento.

De espinha dobrada

por uma vida deslumbrada

Desperdiçam corações

Por uns míseros tostões.