Não sei de onde saístes, de que céu,
de qual mistério profundo,
Onde pequenas passagens se abrem,
E, às vezes, palavras tristes
caem no pântano profanado da alma,
Junto ao teu rosto
que escapa de milhões de cataclismos,
Ainda fresco, ainda um riso tão bom de ser ouvido,
Como um pássaro que invade a minha janela
e começa a cantar;
Põe-me, de súbito,
imerso em águas transparentes,
Da cor esmeralda de sua flor,
Cantando palavras soltas,
Como o júbilo da cura de infinitas tristezas,
Livres como uma febre do pensamento
que deveria me envolver,
A descrever paixões adolescentes,
Na corredeira inquieta das águas imaturas
De um rio que viria a florescer...
Sibila na primavera
com o rumor de um vulto mascarado,
De riso triste e hálito perfumado,
como as flores simples do prado.
O amor a quem um coração,
A muito calado, nunca irá esquecer,
Qual relento desta manhã tardia,
perdido numa noite imensa de sonhos
Enfureceu-se de guardá-lo
por mais um momento, na timidez.
Ainda assim o faz nascer como dia,
mesmo que cinzento,
Quando escapa de sua paixão exasperada.
O mesmo calor,
Que há de esquentar os ramos serenos
de seu coração,
Entrelaçado pelos mesmos galhos ressequidos de outrora,
Onde suas folhagens
buscavam respirar algum sofrimento,
Ressentido de sua voz de vento
que atualmente lhe faz voltar a viver,
Pois sabes,
só o tempo faz renascer os brotos do esquecimento,
Que irão vesti-lo de novo
e cobrir seu tronco rugoso,
Dissimulando as marcas de sua derradeira estação,
Como se fosse um último inverno
e embora não haja neve,
tudo se perpetue branco
como é o frio alento desse amor.
Sei que não possui a clemência de uma paixão graciosa,
Como uma dália preciosa
que deseja a terra, a água, o fogo e o ar.
És feita para ser adorada
no entardecer de úmidas ansiedades,
No crepúsculo do meu caminho
que é feito de pedras e névoas,
E mesmo assim, sendo admirada,
não se cansa de me amar,
Com seu aroma
e os abraços sublimes a me envolver,
Silenciosamente, embebido na solidão do meu deserto
ainda sem chuva.
Tenra seda com pele de pêssego
saída de seu peito abençoado,
Faz-me beber da água fresca desse poço,
ainda que esteja turva,
Outras vezes
abres um compartimento de seu coração,
Como se fosse uma fonte de compreensões amargosas,
E as transforma em beijos e caricias,
refazendo as noites frondosas.
Onde a brisa da minha poesia é frugal,
Traz esse teu cantar noturno de flor melodiosa,
Afastando a dor arrasadora do temporal,
Celebrado na saudade dos sonhos incompreendidos,
Vindos do gotejo lento dos telhados,
na chuva fina de cada madrugada,
Sob rumoroso vento breve , que espalha sua sinfonia,
Onde te vestes de musica para que eu a acompanhe,
Como se fosse um champanhe
consagrado pelo seu frescor,
Atua a doce paixão,
que enfim, escapa das minhas mãos,
Tecendo seu perfume
na renda dos ares, mares e estrelas
Derramando-se na simples e temerária ilusão de seu lume,
Em que vaga confinante ao meu amor