Doloroso

Os Teus Segredos

Viajar pelos mistérios entranhados no ar que te cerca

Seria uma jornada pelas tortuosas estradas de minha mente;

Seria irremediavelmente perder-me para sempre

Nos insondáveis caminhos dos meus sentimentos. 

Um anjo falou-me de ti

E o diabo veio desesperar-me por ti. 

Quisera eu também conhecer os mistérios de tua alma…

Os anjos que te guardam me amaldiçoam;

Teus demônios me assombram 

Com o que descartas no lixo.

Pelas esquinas vigio tua felicidade

Entregando-me à amargura. 

Pelas ruas, cuido não te encontrar,

Mas sondo os astros sobre o teu paradeiro.

Tomo conta das horas para não te ver exalando minha miséria,

E passo o tempo te entregando meu sofrimento. 

Seriam teus beijos de plástico? 

Teus abraços de fios de sutura?

O toque de teus dedos

Frios tubos de ensaio dos sonhos de minha cabeça? 

Seria tu para mim

Um eterno desconhecimento de tuas magias

E um amargo depurativo de realidade em minhas fantasias?

Os teus segredos sabem toda a cidade,

Campos, vales, montanhas e mares…

Eu me ajoelho diante do altar de tua santidade

E, de mãos postas, adoro com fervor os teus dogmas,

Que caem por terra esfacelando-se

Como santos de barro.

Busco o nascer do teu sol,

O teu horizonte emoldurado,

A brisa que te refresque,

Para, neste agrupamento de coisas vazias,

Ter a fé que existes em cada uma delas,

Solitária, imaculada e Santa,

Guardada em intocável veneração. 

Ninguém conhece os ponteiros de tuas horas;

Ninguém conhece o Norte de tua bússola;

Ninguém conta os dias de teu calendário… 

Não há quem conheça a carruagem que te conduz

Nem o cocheiro que te segura a mão quando dela tu desces. 

Ninguém sabe quem te leva;

Quem te traz…

Ninguém sente a dor de tua indiferença;

Nem as calçadas, nem os cães de rua!

Ninguém,

Ou, quem te admira bela de teus cuidados?

Quem toca a maciez de tua pele de pêssego? 

Quem sente o teu perfume de pêssego?...

Teu corpo fresco de um banho inimaginável…

A quem lanças o brilho de teus olhos?

Não… Eu sei que ninguém não é…

Quem ouve teus suspiros na noite, além de teus lençóis, 

Lençóis além, 

Leitos além?...

Ninguém conhece a mágica de tua invisibilidade,

Que te esconde das línguas e olhares maliciosos.

Em tardes escaldantes de sábado, 

Ninguém sabe como descansas;

Como ninguém sabe como preenches as horas 

Do Dia do Senhor…

Ninguém sabe se és o céu noturno estrelado

Ou o astro matutino descendo do firmamento

Para dar vida à terra.

Ninguém sabe se és o temporal de verão à tarde

Ou o dia intermitentemente molhado por uma chuva fina.

Quem sabe que espero por ti há tanto tempo, 

E que converteste o verbo esperar em fenecer?…

Ninguém sou eu,

O inútil zelador dos teus segredos.

Segredos que, uma vez revelados, 

Eu não teria a quem contar,

E em minha mudez seria aniquilado

Na maré de teus mistérios…