Lancei naus para o outro lado,
do mundo que acreditava quadrado,
cavalguei as ondas do oceano,
provei que o mundo não é plano,
e com este sentimento profundo,
tornei-me dono do mundo.
O povo inculto colonizei,
Mais sabedor dos que exultei.
Espalhei a palavra com fervor,
aos descrentes infligi dor,
esventrei o solo sagrado,
por um punhado de ouro roubado.
O sangue jorrou incontido
puro, vermelho, nativo,
e ao mar de novo me lancei,
de regresso à casa que deixei.
Nas águas enfrentei a fúria divina,
resoluto, venci a minha sina,
com as naus, no Tejo fundeadas,
repletas de riquezas pilhadas.
A El Rei apresentei-me curvado,
com o sangue nas mãos, lavado,
Carregando o ouro negro, que sem vergonha,
trafiquei alegremente, ó coisa medonha.
Exibidos perante o povo analfabeto e bruto
Que julgava ter o poder absoluto,
Incapaz de alcançar a razão
Obediente como um cão.
O reino delirou com as glórias alcançadas
sem se importar com as vidas ceifadas,
El Rei exultou os feitos desta gente insana
Que se julgava impoluta e puritana.
Tantas riquezas esvaídas
tanto sangue, tantas vidas
Tanto desperdício, tanta pobreza
Tanto bruto disfarçado de nobreza!