joaquim cesario de mello

TRAVESSEIROS ACORDADOS

 

Todas as noites acordo os travesseiros

com o burburinho buliçoso dos meus sonhos

 

Se meus travesseiros falassem

revelariam íntimos segredos

que neles confesso como a nenhum padre

 

Meus travesseiros na escuridade do quarto

se transformam em escudos do guerreiro

em naves espaciais que perfuram galáxias

nas caravelas singrando mares de ventos

ou macios braços que me enlaçam

como os seios aconchegantes dos enamorados

 

Entre a cabeça e os travesseiros tudo posso

e em tudo sou isento e desculpado

enquanto gotejo em suas fronhas molhadas

salivas latentes dos meus febris encantamentos

 

Quando não estou meus travesseiros dormem

o sono algodoado das almofadas

(...)

Porém quando não mais existir

quem desadormecerá os travesseiros

e herdará os chumaços dos meus sonhos

no interior deles depositados?