Todas as noites acordo os travesseiros
com o burburinho buliçoso dos meus sonhos
Se meus travesseiros falassem
revelariam íntimos segredos
que neles confesso como a nenhum padre
Meus travesseiros na escuridade do quarto
se transformam em escudos do guerreiro
em naves espaciais que perfuram galáxias
nas caravelas singrando mares de ventos
ou macios braços que me enlaçam
como os seios aconchegantes dos enamorados
Entre a cabeça e os travesseiros tudo posso
e em tudo sou isento e desculpado
enquanto gotejo em suas fronhas molhadas
salivas latentes dos meus febris encantamentos
Quando não estou meus travesseiros dormem
o sono algodoado das almofadas
(...)
Porém quando não mais existir
quem desadormecerá os travesseiros
e herdará os chumaços dos meus sonhos
no interior deles depositados?