Jose Kappel

O Menino Que Ganhou um Riacho

 

Fraco, sobejo o vôo,

auguro a aurora

em partes de agonia,

onde não brotam águas.

 

Minha caixa é de brinquedo,

minha voz é de criança,

meu pai é de longe,

minha mãe, vem da terra

batida, mas querida.

 

Venho de longe igual a uma

caixa mágica,

que me leva

ao fim do mundo,

onde o sol não nasce

mas flores dançam ao sol.

 

Este sou eu, dos riachos,

constante da natureza,

com água pedreiro de paredes,

e com musgos de

flores no coração.

 

Valia minha bruteza quando

era forte;

hoje, esquálido

e esquecido,

refaço meu coração de pedras

e calço a ansiedade e o medo

com tragos de solidão.

 

E neste riacho

vou morrer;

neste riacho vou partir;

sem dar adeus.

 

O riacho tem vida

Que abranda

A minha !

 

Todos se foram

e minha luz interior

se esvai, lasciva mas

perene.

 

Vou, então, pra onde?

Pro canto do mundo?

Ou pros escondidos

das águas?

 

Se vou, choro,

Se fico, sou porta

de cachoeiras

incansáveis.

 

Ah bela!

Se desfilo,

vou sem passo.

 

E se amo, caminho

pelo riacho de criança,

cujas águas eternas

alisam meus pés

e ainda me protegem

dos revés que

me aportam !

 

Hoje vivo nele,

abrando folhas

esparsas que nele

nadam.

 

Somos dois

amigos.

 

Somos a procura

da vida.

Ou já somos

achados 

da vida.