Pela janela onde o tempo passa
ainda vejo as nuvens do ontem
sendo empurradas ao horizonte
que se estende além do que agora
é para hoje antigamente
O esvoaçar das nuvens de antes
era moroso como as tardes
que vinha após o almoço
na casa da minha avó
em que se servia macarrão de forno
onde se mastigava também os domingos
As nuvens que ainda contemplo
vagueiam por sobre telhados
de residências que não mais vejo
como se limpassem do céu a tristeza
deixando-o com um azul mais azul
que o azul turquesa do anel da minha mãe
Pela janela onde o tempo passa
continuo assistindo o adejar
interminável das nuvens do ontem
que para mim sempre foram
as asas de deus nos sobrevoando