Meu primeiro poeta foi meu pai
sentado em sua escrivaninha
com o cachimbo acesso ao lado
datilografando na máquina de escrever
versos que na época eu não entendia nada
No colégio em que estudava
conheci Cecília Meireles
que no poema Ou Isto ou Aquilo
já me fez escolher seguir na vida
sendo curioso, diferente e singular
Na juventude me chegou Vinicius
com seus poemas e seu violão
e com ele descobri que o infinito
só é interminável enquanto dura
Quem viveu os anos que vivi
amava ler Neruda e citar
Fernando Pessoa
Mário de Sá-Carneiro
Hilda Hilst, Adélia Prado
Manuel Bandeira e Ferreira Gullar
além de Carlos Drummond de Andrade
e tudo o que era underground
Porém foi nas madrugadas despertadas
que vieram os poetas que escreviam em inglês
mas como I don’t speak English
apenas os conhecia se fossem traduzidos
para o meu bom e velho brasileirês
Agora que leio Mia Couto
Louise Glück, Wislawa Szymborska
Manuel António Pina e tantos outros
desejo que meu neto me olhe
sentado em frente ao computador
com um cigarro acesso ao lado
escrevendo versos nos dias do agora
em que ele ainda não entende nada