Viver é barato lisérgico viciante
É como estar dopado e distraído
Ao mesmo instante
Um dia eu caí aqui inconsciente,
Como um dopado crônico desmemoriado
e logo me vestiram e me deram
um nome social e me acolheram
Como se acolhe um desprotegido
vulnerável
Servi assim um tempo,
Como animalzinho de pelúcia engraçadinho
E me mimavam e ninavam o tempo todo e depois
Me guardavam protegido como relíquia
De repente, por novas distrações
Conduziram-me pelas mãos por aí,
enquanto eu chorava
E sentia fome e sentia sono, e eu nem sabia que
Vontades são lísérgicas
Com o tempo, a gente vai perdendo a graça
E deixa de ser a relíquia bem guardada
Como brinquedo velho sem pilha ao alcance
Um dia, me liberaram para experimentar doses mais
fortes no curso da vida enquanto eu aprendia a mexer
com números e códigos e alquimias
e assim de repente, como se perde a inocência,
eu deixei os brinquedos jogados num canto e
nem perceberam eu pular as cercas do quintal,
e, entre uma noite e um dia, nem notaram que eu
já demorava a voltar e entre um outono e um verão
nem perceberam que às vezes, por distrações, eu não
voltava
Agora estou eu aqui de cara
Na esquina da vida
Enquanto o barato começa a passar
vendo essa
multidão chapada
disputando
os perigos das doses
mais fortes de vida
nas quebradas dos desejos
e eu só tenho um velho pergaminho
sobre perigos, mitos e lendas
uma ou outra memória guardada de cabeça
sobre mim e alguma linhagem ancestral
e esse mapa imprestável com o endereço
errado que eu nem consulto mais
sem o velhos barato lisérgico...