Cadê o mar que a janela mostrava
e as gaivotas voando no ar
pingando o céu amanhecido de branco?
Cadê o cheiro matinal dos sargaços
a me impregnar as narinas
já acostumadas ao odor nauseante
das moribundas algas marinhas?
Cadê a zoada das pessoas
animadas de sol e sal
a bronzear a camada córnea da pele
como se todo dia fosse manhã de domingo?
Cadê o vai-e-vem dos sorveteiros
vestidos em camisas amarelas suadas
com seus carrinhos oxidados de tempo
adocicando o interior sedento das crianças?
Cadê o sussurrar das ondas
perturbando o sossego das areias
no lamber molhado dos seus beijos?
Cadê aquele oceano inteiro
a se estender até o firmamento
misturando os azuis no horizonte?
Cadê a praia dos meus anteontens
e eu mesmo nela me banhando?