Hébron

Areia da ampulheta

...
A areia escorre sem parar, sem sentido...

Caem grãos incontáveis enquanto o sol e a lua me visitam dia e noite...

Esses grãos, como chuva, amontoam-se enquanto os tecidos curtidos e já encardidos pelo sal de suor de todas as lidas secam, a se amarrotar, mudando semblantes e desenhando mapas sem direção, sem norte...

Sulcos que surgem nesse tecido contemporâneos às novas gerações da renovação do mundo, que prometem seguir quando eu não mais tiver passos...

E elas são promessas de novas idas com a convicção imprecisa da estrada, assim como a areia e o caminho das rugas, na certeza do porvir, enquanto nuvens e estrelas ornam toda sina indiferentes de eras...

Caem grãos incontáveis enquanto o sol e a lua, nuvens e estrelas me visitam no desdobramento da minha jornada, reverenciando o destino a ser cumprido, a ser desenhado, a ser sentido, sem norte definido, mas com a sorte de um rumo, mesmo que seja a certeza da morte...

A areia escorre ainda, e enquanto ampulheta sou findo, e ao fim dos grãos sou tempo infinito...

A areia escorre sem parar, sem sentido...