Nem todos os beijos de Mistral
chegam aos pés dos lábios teus
Neles fui condenado ao silêncio das línguas
onde todas as palavras são afogadas
pelo diálogo molhado das salivas
e nenhum te amo necessita ser pronunciado
nas cavidades profundas e ecoantes das bocas
A voz que em ti encontro por dentro
comigo fala o linguajar dos afetos
que em nenhum dicionário haverei de achar
pois o amor que o beijo que tua boca me dá
não tem sintaxe, predicado, sujeito ou verbo
No confidenciar acariciante dos lábios
não há espaço para mais nada
que não se resuma a fluidez líquida
da mistura dos desejos entremeados
No infindável tempo em que tu me beijas
tudo que o tinha para se dizer já se foi contando
e é no calado surdo dos nossos beijos
que todos os segredos do Universo são revelados
Que me perdoe Gabriela Mistral
mas a boca que meus lábios beijam
me ensinou um beijo que nenhum poeta
poderia antes ter sequer imaginado
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Inspirado a partir do poema Beijos da poeta chilena Gabriela Mistral, Nobel de Literatura em 1945