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joaquim cesario de mello

ALÉM DOS BEIJOS DE MISTRAL

 

Nem todos os beijos de Mistral

chegam aos pés dos lábios teus

 

Neles fui condenado ao silêncio das línguas

onde todas as palavras são afogadas

pelo diálogo molhado das salivas

e nenhum te amo necessita ser pronunciado

nas cavidades profundas e ecoantes das bocas

 

A voz que em ti encontro por dentro

comigo fala o linguajar dos afetos

que em nenhum dicionário haverei de achar

pois o amor que o beijo que tua boca me dá

não tem sintaxe, predicado, sujeito ou verbo

 

No confidenciar acariciante dos lábios

não há espaço para mais nada

que não se resuma a fluidez líquida

da mistura dos desejos entremeados

 

No infindável tempo em que tu me beijas

tudo que o tinha para se dizer já se foi contando

e é no calado surdo dos nossos beijos

que todos os segredos do Universo são revelados

 

Que me perdoe Gabriela Mistral

mas a boca que meus lábios beijam

me ensinou um beijo que nenhum poeta

poderia antes ter sequer imaginado

 

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Inspirado a partir do poema Beijos da poeta chilena Gabriela Mistral, Nobel de Literatura em 1945