Fenix
Noite escura.
ressoam passos pesados
nas pedras da rua.
Um grito rouco deforma
a voz amada.
Estremeço ouvindo
o baque surdo.
Sobre o sangue escuro
que tingiu o calçamento,
correram anos e anos.
Pedras não esquecem.
Passos pesados
me acordam, todas as noites,
na mesma hora tardia,
um pouco antes do grito.
Como as pedras da rua,
meus ossos não esquecem.
Entretanto, todos os dias
a vida me chama, lá fora,
para varrer os fantasmas
da calçada.
Lavando o chão,
abrindo as janelas,
fazendo o café,
reúno a base que me sustém:
terra, ar, água e fogo.
E , inteira, recebo a graça
de mais um dia.