Dizem que eu não sorrio, sou sisudo demais, quieto demais, que eu sonho demais e ainda sou arredio. Eu já não me justifico, prefiro ouvir, por vezes concordar, raramente discordar, então eu abro minhas asas pois prefiro voar a justificar um momento sombrio.
Sorrir não diz muito sobre mim, chorar, o que eu faço com frequência, não indica meu fim, talvez por ser humano demais, porque eu sinto demais, o amor, a dor, ansiedade e paixão, frio e calor, são os meus pontos cardeais.
Sorrir não diz muito sobre mim, chorar também não, mas o que eu sinto, o que eu sonho, ah isso sim me tira do chão. Uma moeda com lados diferentes, às vezes pragmático, noutras sonhador, sou artista, sou poeta, posso ser o espinho da flor.
Sorrir não diz muito sobre mim, talvez as canções que eu ouço, talvez os momentos que eu me sinto num calabouço, sem esperança, sem alegria, quando deixo de ser criança e não tenho mais poesia. Nessas horas eu reflito, olho pra dentro de mim, enxergo meu lado avesso, e como um blues que lamenta a dor, procuro e encontro um novo começo.
Recomeçar, para que todos os dias eu possa lembrar, que sorrir não diz muito sobre mim, que chorar não indica meu fim, mas me reinventar, isso sim, pode me caracterizar. Todas as vezes que eu caí, consegui me levantar, as batalhas que perdi, vieram para ensinar, que não importa ser blues ou rock and roll, o mais importante é cantar.
Dizem que eu não sorrio, tudo bem, não sou rio mesmo, eu sou sol, sou a chuva, sou o vento vazio ou um cacho de uva, posso ser enxurrada, posso ser passarinho, às vezes eu não sou nada, é quando me sinto sozinho, mas o meu lado poeta é mais forte, então me levanto, “voo pro Sul ou pro Norte”, rabisco uma poesia, invento uma fantasia, e meu sorriso vem forte.
Jose Fernando Pinto