Hébron

Lampejos do absurdo

Era um cortejo de luz!

 

A distância era tímida diante dessa estrada...

 

Vagalumes exaltados reverenciavam em lampejos e oravam ao que lhes parecia um milagre...

 

O céu saudava o chão em comunhão inimaginável, fazendo da linha do horizonte um elo de bordado bonito, sensação de cumprimento de mãos e abraços, sem lonjura e ainda assim amplo, exalando um certo impossível que não se explica em meras palavras, mas pode-se sentir em perfume na atmosfera, em sentidos aflorados de versos de poesia e nos coloridos de fantasias...

 

Busco na memória o badalar de sinos ou a rotina, a dor de alguma perda ou um arranhão...

 

Consigo imaginar apenas o dobrar de sinos em chamado de uma sacracidade perdida que não conheço o gosto. 

 

Mas não é crível a dor, a perda, não me parece razoável arranhões, soam como uma lenda, crendices ditas em inocente ignorância... 

 

Fantasias de alguma criança!

 

Olho por detrás do futuro e vejo caminhadas dos mais diferentes caminhos, e me vejo em aceno naquela caminhada única, com um olhar opaco, desbrilhado e sem tempo, mas feliz de alguma maneira por apenas ter sido...

 

Olho aquém de todo o porvir e vejo janelas adentro a refletir paisagens em cores que não mais me lembro, e vejo meu sorriso largado em meu rosto esquecido, irreconhecido, e o pó dos passos que foram meus e sinto o estranho fatigar daquela ida...

 

Percebo o suor escorrendo no rosto que vislumbro mais adiante, um esforço de vida vivida em algum tempo que me exprime afeto repentino de um repente sem lucidez... Pele cabocla que nunca tive e olhos eternos em cada piscar, transbordando resignação e algum aprendizado marcado em alguma cor da minha aura...

 

Uma criança chora ausente de colo e uma face a lhe fitar em carinho maternal lhe acolhe, já não tenho privação dos tempos e na vastidão de tantas sensações choro novamente esse choro anacrônico de uma criança em lembranças revividas, rompendo o peito... E de todos os universos e de todas as dimensões e ciclos de eras, queria apenas esse agora e os braços e o embalar no colo daquela mãe... Nunca senti tanta eternidade!

 

São tantos mundos que orbitam o meu universo nessa sublime infinitude, nessa jornada de tempos guardados nas trilhas enigmáticas da vida, nos batistérios da existência de cada ato... 

 

E no testemunho de uma estrela do céu ou das constelações em testamentos, momentos vividos cravados na história...

 

E é tanta vivência que se guarda sempre uma novidade no caminho já trilhado, especialmente para desvendar um carinho, um afeto, para surpreender em alguma experiência perdida no tempo inalcancável apenas àqueles carentes de passos, de céus, de voos, carentes de sonhos, de absurdos e infinitos,  carentes de fé e infância...

 

Vagalumes exaltados reverenciavam em lampejos e oravam ao que lhes parecia um milagre

 

A distância era tímida diante dessa estrada...

 

Era um cortejo de luz!