Nunca mais te vi passar
pelos entremeios dos minutos
cortando os recintos como as tardes
que por mim sempre passam
Nunca mais teu olhar noturno
me viram dormir alheio
aos fantasmas do quarto
que tu antes havias enxotado
Nunca mais teus dedos afiados
escorreram pelos meus cabelos
oxigenados de auroras e mocidade
penteando-os com finos dentes de eternidade
Nunca mais teu cheiro de bergamota
encorpado de jasmins e rosas
adocicaram o ar respirado
perfumado agora de vãos e vácuos
Nunca mais teu rosto ao espelho
poderá me avistar a te mirar
nas vezes em que me vejo te olhando
nos fundos esverdeados dos meus olhos
que são de ti minha mais fiel e leal lembrança
Nunca mais te ouvi falar
com o timbre firme das vozes claras
a me aconselhar para ter cuidado
para não me perder, cair ou me machucar
Nunca mais vou te ver ir embora
deixando-me aqui tonto e desacompanhado
pois da vida só se some uma vez
e depois, mãe, nenhuma vez mais
nunca mais