Marcelo Veloso

O ÓCIO E O CIO

O que a morosidade permite,

nem sempre se leva a sério,

se, por um lado, desiste,

logo vem o vitupério.

 

E no acinte da preguiça,

há extensão de desleixo,

que leva a um gestual que atiça,

e a uma saliência sem eixo.

 

E a insegurança vence,

pintada como uma moleza banal,

que alimenta um apetite em suspense,

de formato estuoso e animal.

 

Só que o retiro pra repousar,

não é um alimento com ranço,

é a saciedade do encontrar,

o momento oportuno do descanso.

 

O que alimenta a mente,

não é o sexualizar do apetite,

é um sustento bem diferente,

de respeito, liberdade e limite.

 

E se o fascínio prospera,

a criatividade fomenta o ócio,

não deixando qualquer quimera,

para um acalorar maculado e indócil.

 

Não se trata de um trocadilho pejorativo,

é apenas um ato de separar e acentuar,

para que o poema seja qualitativo,

que a nobreza da cultura faz semear.

 

E quando se separa o primeiro o do ócio,

e também tira o acento do ó,

o cio passa, então, a ser sócio,

de uma inspiração poética, por si só.

 

E no conjugar de tudo isso,

não é bom ficar no ócio, cioso,

pois, se perder a ledice e o viço,

passa a viver impudico e tedioso.