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Cecilia

MEDIEVAL

Dez anos de casada, nem filhos nem orgasmos.  Merg sabia de mulheres felizes com seus homens, e de outras que não gostavam de sexo, mas se realizavam com os filhos que ele produzia.  Merg nõ se parecia com elas.   Não se alegrava, nen queixava.   Considerava a rotina conjugal como mis uma das intermináveis tarefas domésticas.   Sofria muito por ser estéril, invejava as barrigas prenhes, e os lindos filhos das vizinha

Merg não se alegrava, nem queixava. Considerava suas obrigações conjugais como parte da infindável rotina doméstica.

De Josh, não sabia se gostava de estar com ela, se queria filhos.   Era homem de poucas palavras, sorriso nenhum.   Cumpria seu papel, de vez em quando procurava a mulher   a vida era dura.

No escuro, Merg estranhava o peso leve seu corpo.   Não era de Josh essa demora em afagos, esse fogoso carinho.   Surpresa, descobriu que seu corpo magro enfeixava nervos sensíveis ao toque, que seus mamilos entumeciam e umidade lhe escorria pelas coxas.  Conheceu a onda irreprimível do desejo, e todas as nuances do prazer.

Sete noites o íncubo voltou e esgotou todas as forças de Meg.   Só não a matou porque o feto, em seu ventre, queria viver.       Confusa, cheia de medos, Merg se recuperou aos poucos.   Queria acreditar que o filho era de Josh, que suas aventuras noturnas foram inconfessáveis alucinações.   Temia ter ofendido os poderosos deuses do s ritos antigos nos quais crescera, temia ter perdido a proteção do novo deus único, ao qual seu marido adorava, mas ela ainda não conhecia bem.      Tinha medo sobretudo,  dos sacerdotes da nova ei, que assustavam com as penas do inferno, e realmente queimavam mulheres por imaginários pecados.

A esperada gravidez foi sadia e feliz, ao cabo da qual Merg pariu sem dor.   O novo deus condenou Adão e seus filhos ao suor do trabalho, e Eva e suas filhas aos sofrimentos do parto.   Josh trabalhava como um animal, como ela poderia parir sem dor?

O menino nasceu com dois alvos incisivos na gengiva rosada Merg ficou muito feliz, mas custou a perceber a perna esquerda, um tantinho mais curta.    Castigo!   O menino tinha sido concebido no pecado.   As anormalidades poderiam ser interpretadas como marcas do demônio.   Se bem bebês, culpa da a mãe.   Assustou-se ao observar que o menino mamava bem, mas crescia um mês por semana, muito mais do que as outras crianças   Escondia de todos o   filho e com isso parecia muito estranha.

Em pouco tempo o menino desenvolveu tanto que não era maia um bebê, e Meg fugiu com ele para a montanha. Ninguém foi procurar. Deveria ter enlouquecido de vez.   Depois de uma semana Naruê tomou o lugar de Merg na casa e na cama de   Josh.  

Merg sofria, definhava, envelhecia.   Não era essa a maternidade que sonhara.   Evitava a tentação da morte voluntária porque os suicidas, decapitados, eram condenados s penas do inferno.

Depois se alguns meses apareceram, à margem do caminho, restos de mulher.   As vestes e os despojos estavam tão estragados, que nem mesmo Josh soube dizer se tinham sido de sua primeira mulher.

Mais ou menos na mesma época apareceu em Yielburg um lindo menino moreno, aparentando quinze anos, conhecedor .de tão poucas palavras que não soube explicar de onde tinha vindo.   Entretanto suas boas carnes mostravam que nunca havia passado fome.   As mulheres encantadas, sempre rodeavam o menino, ao contrário dos homens, que o detestavam.   Desconfiavam que, quando à noite abraçavam suas mulheres, era no menino que elas pensavam.   Escorraçaram-no dali a pedradas.

O tempo passou, e durante o inverno rigoroso, a jovem esposa do burgomestre entrou em trabalho de parto tão repentinamente, que não foi possível vir alguém ajudar.   Quem assistiu foi o marido que, ao erguer o bebê pelos tornozelos, para que chorasse, notou horrorizado a falta completa do cordão umbilical, e a perninha mais curta.   A mãe entendeu porque Merg fugira, de quem era o corpo á beira do caminho, e temeu pelo seu futuro.    O burgomestre ajudou a esposa a lavar-se e a dormir, sufocou o recém-nascido com um travesseiro.    Ao amanhecer divulgou que lhes nascera morto o primeiro filho, enterrado ao lado da casa porque os cemitérios não aceitavam crianças sem batismo.   Estava levando a esposa para restabelecer-se na casa dos pais, em aldeia distante.   A jovem mãe não sobreviveu à viagem.Naquele inverno terrível vários bebês prematuros nasceram morto.   Como a esposa do burgomestre, suas mães não foram felizes. Allexia morreu de pneumonia, Railde suicidou-se, Leah teve febre puerperal, Dilze morreu de hemorragia e Corally de parada cardíaca.    Só sobreviveu ao parto a pobre Fanny, quase uma menina, que ainda não tinha marido, e que, enlouquecida, passou a uivar para a lua.

Nem mesmo na época da peste negra houve tantas mortes em uma semana em Yilbug.