TREM, TEMPO, VIDA!
O trem do tempo não para e nem repousa
Sou a prova desde o início do meu tempo
Tempo ínfimo de pequeno grão de areia
Que o vento leva em viagens e passeia
Por lugares bonitos, ermos ou insólitos…
Primeiro fui ao ventre da minha mãe
E me instalei nesse mundo obscuro
E por nove longos meses ali permaneci
Subitamente o espaço era pouco, nasci
Ou renasci. Tempo de novas experiências
O trem da vida urgente me chamava...
Primeira parada, Serrote, povoado
Onde trêmula dei os primeiros passos,
No chão de barro vivo e vermelho
Deixando sobre a terra as pegadas…
Depois, no sertão, uma parada rápida
Nas terras fofas de Antônio Diogo
Terra de farinhadas e macaxeiras
Mingaus de gomas e chás de ervas-cidreiras…
Aracoiaba fiz uma pequena parada
Vivi, trabalhei, estudei e com o tempo
Novamente no trem da vida embarquei
O trem segue cantando encarrilhado
Sobre rodas e trilhos, faíscas de fogo
Sobe e desce as colinas e montanhas
Percorre campos e outras tantas estradas
Em algumas paro, noutras, faço moradas
Acompanhando a música infinda do trem
Qual serpente, sinuosa e fumegante,
Vai soltando fumaças a cada instante
De suas ventas de ferro avermelhadas
Eu vou com ele nessa última jornada
Ainda não sei como vai ser o meu final
Se o trem para ao longo de uma avenida
Ou salto eu, numa estação, para outra vida.
LEIDE FREITAS