Arlindo@123

A Agulha Da Morte

A Agulha Da Morte

Era uma casa pequenina e bem discreta

Com um jardim a lhe enfeitar a frontaria,

Nela moravam uma avó e sua neta

E mais o amor que entre as duas existia!

 

Velha viúva e que tanto já sofrera!

Sobrevivendo e resistindo à amargura

Uma mulher à quem a vida traiçoeira

Foi pouco alegre e intensamente dura!

 

Que viu a morte um a um levar os seus;

Que se humilhou e que por vezes foi cuspida

Dessas mulheres que auferem inda em vida

Pelo martírio, um altar aos pés de Deus!

 

Sua filha a pouco havia falecido

E logo a neta precisou do seu cuidado

Pobre herdeira de um pai desconhecido

E cujo o peito já batia apaixonado!

 

Pra despistar a dor que lhe atacava

A pobre velha com assaz delicadeza

Por longas horas piamente tricotava

E deste modo se olvidava da tristeza!

 

Mas em meio a harmonia do ambiente

Por vergonha ou quem sabe até por medo

Sua neta de maneira inconsequente

Escondia da vovó o seu segredo!

 

O garoto o qual beijava escondida

a descartou e do amor dela desfez

Lhe dizendo: eu estou já de partida

E é melhor interromper a gravidez!

 

Uma treva lhe cobriu naquele instante;

Tateava mas não encontrava o chão

humilhada viu naquilo a ultrajante

Cantoria que precede a maldição !

 

E pensando em sua mãe, desesperada

Para não reescrever infausta sina

A estrutura muito frágil da menina

Perpetrou a decisão bastante errada...

 

\"A minha doce avó de mim se orgulha

Ela é a Viga,o Amparo e é meu Porto...\"

E pro banheiro carregou aquela agulha

E lá morreu quando tentou um auto aborto!

 

A velha forte como um cerne de aroeira

Viu-se amuada num silêncio irresoluto

e na clausura de uma angústia sem fronteira

Tricota peças só com linhas cor de luto!

Moreira Júnior