Era-lhe o silêncio as asas
para as lonjuras ao seu olhar
voejava abismos fictícios
ensimesmada, divagante
tamanha a vontade de migrar...
de sorte ninguém a acompanhava
porque ousava metamorfosear-se
em cada entardecer
e entardecente se fazia
pra se comprazer...
percorria escarpado caminho
e o caminho era ela mesma
densa e virginal
esgueirava-se pela barranqueira
molhava os pés na correnteza
e se fazia rio
estuante que era transbordava
a cada vendaval...
ao abraçar as planicíes
que a vida lhe emprestava
para as searas matinais renascia
renascida se fazia semente
para germinar outra vez
seu ponto de partida...
Maria Lucia (Centelha )