Ana Laura

Tudo culpa nossa

Tudo culpa nossa. 

 

Eu achava que o único lugar onde não havia inveja, desprezo e ódio

Era o cemitério.

Até o dia em que conheci a morte.

Percebi que nem mortos, as pessoas parariam de ser ruins. 

Pensei que seus orgulhos e egos obesos seriam também enterrados com seus corpos. 

Mas isso não aconteceu.

De noite, todos eles cochichavam sobre cada um que visitava aquele lugar. 

Alguns riam das lamentações e choros de uma pessoa que, ajoelhada pedia para o morto voltar ao mundo, pois sua falta era grande e a saudade gigante.

Alguns,

Surpreendentemente,

reclamavam da vida 

QUE NEM TINHAM MAIS!

Reclamavam que suas mortes foram idiotas, sem sentido, rápida de mais ou demorada de mais. 

Mortos invejavam outros mortos por terem muitas flores nos seus túmulos.

A tristeza e o medo

De não serem lembrados

Assombrava eles, 

Era grande de mais.

Ou melhor,

Foi 

Grande de mais.

E agora, que ninguém se lembra,

Contemplam a pior 

E última fase da morte.

A consciência

Da sua inútil existência

Que foi um dia.

Nesse mundo de se rir tão atoa.

Mas poderiam ser lembrados

Se caso fossem pessoas boas.