Um dia, à soleira da porta
esperando o café
quentinho que
mãe fazia de coador
sob a luz morninha
da manhã preguiçosa
eu menino imaginava
tantas muitas aventuras
com o meu vira-lata fiel
transformando em coliseu
as terras do meu quintal
enquanto eu sondava improvisos
(sem fogo nem canivete
porque mãe advertia)
das tralhas rejeitadas
como aros não raiados
por onde meu cão saltaria
em voos desajeitados
em resgate de bola ou bastão
já tecia insidioso o destino
uma trama à revelia
Manhãs algumas depois
No saco que o destino teceu
Meu cão se foi para sempre
E toda a graça do meu coliseu
As tardes solitárias então
velaram em silêncio doído
as tralhas não despedidas
a bola surrada do cão, os aros
de bicicletas e todo mistério
escondido nas terras do meu quintal
o sol já não alcança a soleira
morreu em alguma manhã tardia
sob as sombras erigidas
mas o menino aprendeu
entre aquele café e a morte do cão
que viver é a véspera
das despedidas...