É outono; a copa nua do arvoredo
Fidamente me remete à uma lembrança
Por possuir harmoniosa semelhança
Com a essência visual do meu segredo!
Pra entenderem a memória resguardada
E o porquê à comparei distintamente
Com uma fronde pelo outono desfolhada
Devo a tratar pelo viés de um doente!
Sofregamente dominante, a condição
Me pregnava da cabeça aos tornozelos
E à maneira de uma prensa em ação
Eu arrancava e deglutia meus cabelos!
Me comparava à um ilustre lavrador
Que na labuta meritória e corriqueira
Vai arrancando das gramíneas a toiceira
Para depois encaminha-la ao moedor!
A compulsão tem o poder de satanás,
A mesma força opressora do tinhoso
Que entre a dura obsessão do falso gozo
Nos leva sempre a querer cada vez mais..
Em meio à vômitos e dores excessivas
Um desconforto estomacal angustiante,
A condição e suas forças criativas
Me impeliram à um estágio horripilante!
E foi então que comecei a cobiçar
Num silêncio friamente monstruoso
Entre sombras de um anseio desejoso
Da minha esposa todo adorno capilar!
Aquela idéia em meu ser recrudescia
Então um dia, não podendo suportá-la
Logrando ver que minha amada já dormia
Fui contra ela e comecei esfaqueá-la!
Nove facadas, foram nove exatamente,
(Só um detalhe que em suma não importa)
Porém o ataque não foi muito eficiente
A infeliz estava queda, mas não morta!
Sua agonia impeliu o meu intento;
Ao seu ouvido exigi perdão por tudo,
E na ação de um transtorno violento
Pousei mordidas no seu couro cabeludo!
E que olor! À cada vez que mastigava
A ruiva ruma de pelúcia muito espessa!
E foi assim, até pelar toda cabeça
Da criatura que inda viva agonizava!
Tempo depois vendo que havia sucumbido,
Deixei-a calva numa poça de abandono
E hoje vendo o arvoredo assaz despido
Vejo que à ela fiz as vezes de um outono!