Arlindo@123

Jóias Da Morte

Jóias da Morte

Naquele dia o velório estava cheio

Era querido! O defunto era querido!

Eu tinha um vezo: visitar o luto alheio

Ladrão de tumbas me taxava o apelido!

 

Eu percorria o salão emocionado

Já ansiando ir à caça do tesouro

Com o coveiro e um parente do finado

E que fortuna! Vinte e seis dentes de ouro!

 

Abstraído eu repassava aquele plano;

Reafirmando a valiosa ocasião !

Nada demais desenterrar um corpo humano

Algo fadado à se perder na podridão!

 

À meia noite , ante a fresca sepultura

Aliançados nós em fim nos encontramos

E sem remorso ou temor, da cova escura

O valioso artefato retiramos!

 

O primo ria orgulhoso da conquista

E sussurava nos ouvidos do finado

Há poucas horas eras só um enterrado

E sois agora paciente de um dentista!

 

E ali mesmo ele armou seu consultório;

E foi alegre extraindo a dentadura!

A cada dente suspirava em ar simplório :

\"Que desperdício ostentar na sepultura!

 

Que uma cova só de treva se constela

Olhe pra ele na luxúria do seu terno

Quando sorrir pra satanás lá no inferno

Estará chique,mas também muito banguela!\"

 

E todos rimos, nesse instante o luar cheio

Por entre nuvens obumbradas se escondia;

A escuridão era sugada para o feio

Oco de treva que forçado se exibia!

 

Fausto de inglória o cadáver exumado

Qual se quisesse odioso reclamar

Boquiaberto foi de novo sepultado

Entregue ao brilho da miséria tumular!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Moreira Júnior
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Moreira Júnior