Jose Kappel

Ópera dos Alados

 

De que valem tantas pedras,
presas aos ombros,
com amarras de cordas
de vime e crespadas de vidro?

 

De que vale meu início
se ele não tem data,
nome ou paisagem?

 

De que me vale vagar
em moinhos de trigo,
que faz o caminho e o mundo,
que faz a trilha, que é sempre
o contrário dos espelhos.

 

Se me vergo à estação do medo,
é que dorme em mim os que foram
e os que serão.

 

Bravo, rejubilo que, em meu caos,
canta a trova do medo,
cria o corpo e o faz duende
ao próximo e ao mais próximo.

 

Vive do nada, que não tem data,
aos reis sem nome,
ao cultivo do sal na
ópera dos alados.

 

Se um dia foi assim,
perco em mim o
gesto e a postura.

 

Por comodidade,
é róseo e vasto este mundo,
é cruel se me deixar
viver mais uma vida
sem ser mais ser 
de meu próximo mundo !

 

Quero voltar a ser

plena criança,

mas

já não quero mais crescer !