Cidade de Bandeirantes, Paraná - 1970
Quando eu tinha meus 8 ou 9 anos, eu não sabia jogar futebol, ao contrário dos meus amigos. Todos da minha classe já eram exímios praticantes de futebol.
Nós estamos no país do futebol, coisa mais óbvia do mundo não é mesmo? Mas não é a mesma coisa com um filho de japoneses que mal conseguem falar o português direito.
Só sabia que tinha que chutar a bola. Mas como? Para onde eu teria que chutar? Em que lugar eu tinha que ficar, aqui? Mais para trás? Mais para a frente?
Sabia que tinha que correr. Mas para onde? Para a esquerda? Para a direita?
Era um dia de educação física, quadra do ginásio, o professor me escalou para jogar. Me botou no meio da garotada, meu coração acelerou.
Ele falou: \"Se vira!\". Eu fiquei parado olhando para ele, para ver se ele me ensinava algo. O que eu tinha que fazer? Nenhuma reação do homem.
Ele virou a cara, fingiu que não me via. Os meus colegas ficaram rindo de mim. Eu chorei. Naquele momento chorei mesmo. Queria muito estar com meu pai, mas ele não estava lá, eu estava sozinho.
Ninguém, ninguém veio me dar um abraço, um consolo, tapinhas nas costas, nada! Naquele dia fui embora para casa ainda muito triste.
Esse foi um acontecimento que não me esqueço, infelizmente. Por mais que eu tente, não consigo esquecer até hoje.
Mais tarde, ao longo da minha juventude consegui sozinho, aprender alguns fundamentos do esporte.
Observava jogos, lia a respeito de futebol, assistia a TV alemã Transtel que mostrava técnicas de treinamento, etc.
E então, já na minha maioridade, consegui reunir coragem para jogar com amigos.
Mas nunca fui um bom praticante de futebol ou qualquer outro esporte por conta desse passado.
Sim, o trauma se tornou um empecilho.
Essa foi a primeira desilusão da minha vida.
Naquele dia eu era criança ainda, mas as pessoas não tiveram pena de mim. Aprendi o quanto o ser humano pode ser rude. Se tenho um sonho, preciso aprender a ser forte, me focar em ser igual aos que estão acima de mim, tentar chegar aonde os outros estão.
Mas se for algo que os outros não ajudam, então busque as realizações com as próprias forças.