Roberto Ornelas

A Tecnologia

 
A Tecnologia
 
Dia deste estava observando as pessoas nas ruas, perdidas em seus pensamentos e problemas diversos, naquele vai e vem desenfreado, parecendo formigas se batendo umas nas outras, eu olhava para elas tentando achar um rosto conhecido, mais sem sucesso.
 
Quando encontramos alguém, este diz apressada:
 
— Você tem Facebook vou te acessar ou te passo uma mensagem pelo WhatsApp  para contar as novidades, seu número é o mesmo? E vão embora apresadas sem ao menos apertar sua mão, sem aquele como vai você? Sento em algum lugar desolado, as pessoas passam e nem me reparam, elas nem me olham, não enxergam, imersas em seus celulares, notebook… em seus carros de luxo, superequipados e sons modernos.
 
Todos presos pela tecnologia? Me senti solitário em meio a este imenso modernismo. Em outros tempos haviam pessoas solitárias e perdidas em seus pensamentos obscuros e individuais, nos seus sonhos observando o pôr do sol, a lua, as estrelas, talvez houvesse mais admiração e romantismo.
 
Atualmente as pessoas ficam solitárias em frente a uma tela LCD, ou vêm tudo através do celular, namora-se pelo celular e computador, a mensagem para irmão e amigos é via Face, WhatsApp 
Estamos perdendo aquela conversa olho no olho. Agora é via bate-papo eletrônico e o olho no olho é pelo webcam, aquele aperto de mão demorado e o abraço apertado fraterno quase não existe mais, o beijo da amizade, instalado no rosto, está ficando escasso, no passado.
 
Relembro das brincadeiras infantis com primos e primas, algumas delas foram transformadas em jogos eletrônicos. Recordo dos tempos do baba à noite na rua de pedras e barro semiescura, com a bola quase vazia, depois tinha aquele banho frio de arrepiar, era uma gritaria só, do guerreou,  meu Deus, quanta disposição a nossa, da arraia pão de leite com a rabada de algodão e os gritos do lá vai ela na hora do corte sensacional.
 
A meia cheia de gude de cores variadas, minha dedeira infalível se quebrou, e o futebol de mesa e o meu Santos quase invencível era na unha, o fura pé com nossos olhos de águia e a boa pontaria, o pula corda e do peculato com os cachorros latindo empatando nossas correrias, teimando em correr atrás, nosso pião de madeira deslizando e rodando incansável pelo braço e mãos abeis...
 
E do nosso papo descontraído e alegres com os amigos à noite, sentados no muro de uma casa abandonada ou na esquina dedilhando um violão e cantarolando a música Hotel Califórnia (The Eagles) bons tempos, éramos iluminado pela luz fraca do poste ainda de madeira, por vezes dávamos uma paulada no poste e a luz se apagava, para namorarmos no escurinho… não existia tanta violência como hoje, tempos bons… bons tempos, saudades.
 
Meu filho me tira dos meus pensamentos nostálgicos, me trazendo para a realidade.
 
— Pai, a novela já começou, vou jogar videogame no quarto, viu?
— Ok, só vou passar um texto que vi na internet para o Face de sua mãe e desligar o computador.
— Mais pai! Ela está lá na sala vendo a novela, fala com ela.
— Eu sei, filho, vou passar a mensagem para o Face dela, depois ela ler, se quiser.
 
Enter
 
Roberto Ornelas