QUANDO OLHO PARA O PASSADO AINDA ME VEJO
CORRENDO DESCALÇO SOBRE A TERRA SECA
MARCADA PELAS VÁRIAS PISADAS DE MENINOS
QUE ASSIM COMO EU CORRIAM LIVREMENTE
PELAS RUAS DO BAIRRO DE ONDE MORÁVAMOS.
VEJO MINHAS MÃOS EMPOEIRADAS DE TANTO
JOGAR BOLEBAS COM OS AMIGOS, GRITOS, RISADAS
ARRANHÕES, TUDO FAZIA PARTE DE UMA TARDE
DE UM DIA QUE SÓ TERMINAVA QUANDO
AO LONGE AS MÃES COMEÇAVAM A GRITAR
EXIGINDO A PRESENÇA DOS “MOLEQUES” PARA
CUMPRIR SUAS TAREFAS DIÁRIAS.
NO CANTO DA RUA UM BOCADO DE LINHA
DE PIPA TODA EMBARALHADA QUE ALGUM MENINO
DEIXOU PARA TRÁS, ESCULPIA UMA ARTE PLÁSTICA NUNCA DECIFRADA.
QUE IRONIA, APENAS UMA SOBRA DE LINHA.
O CACHORRO DO BAIRRO CONHECIDO POR TODAS
AS CRIANÇAS, CONTINUA ABANANDO A CAUDA
E ME OLHANDO FIXAMENTE ESPERANDO UM AFAGO
OU UMA BRINCADEIRA, SEUS PELOS TAMBÉM EMPOEIRADOS
DE TERRA NÃO INCOMODAVAM A NINGUÉM, ERA PARTE DE SUA IDENTIDADE
ERA CERTO QUE ESTE CANINO ERA MAIS CONHECIDO NO BAIRRO
QUE O PRÓPRIO PREFEITO DA CIDADE.
VEJO A BICICLETA MONARETA ENFERRUJADA SENDO DISPUTADA
POR VÁRIOS MENINOS, ERA UM TROFÉU PARA QUEM CONSEGUIA
DAR UMA VOLTA NO QUARTEIRÃO.
VEJO O ANOITECER SERENO E VAGAROZO, COMO ERA
OS DIAS DO PASSADO, AOS POUCOS AS LUZES DAS CASAS
VÃO SE APAGANDO, O SILÊNCIO SE TORNA SOBERANO
OS MEUS OLHOS SE FECHAM, E NESTE MOMENTO
COMEÇO A PENSAR NO FUTURO, QUE NA VERDADE
UM DIA ME FARÁ PENSAR NO PASSADO.
QUE SAUDADE!