Sou início e fim, meio das coisas, achado de luzes, perdido em lampejos.
Se sou, sou parte.
Se tenho a posse, sou dono; se me falta é porque não ganho, por mera canção dúbia, se tenho é porque me sobra, por avareza dos sem véus.
De sombras, permeio igualdades, e se não me faço rei de povo nenhum, porque não tenho terras de plantar.
Semeio a discórdia entre os claros e escuros.
Sou a borda e o vôo. Tenho rainhas fogosas e pajéns de cama.
Sou a guarda e o pão.
Guerreiros imponho à minha porta e venço os inimigos apenas quando sonho que sou príncipe de galenas nos mares desfeitos na areia.
Sou assim. Sempre de guarda, sempre afoito, modelado em medo. Esperando a sombra dela para fazer a minha.
Espero os lábios delas para tentar ser feliz. mas qual! Felicidade eu só compro. Vou às esquinas sem vida e na balança da vida, faço a prosa e o som.
Não tenho nexo, e por isso, sou o início e o fim, sou o início do nada, da espera e da tristeza.
Sou a praga dos bem-vindos. Sou o apanágio dos anuais.
Sou isso, sou aquilo, rezo por Zeus - deus dos aflitos, onde não há fim, pouco de princípio, e quando não existe igualdade, me vendo por seis moedas e duas tristezas !
E potes de ouro, acho-os às esquinas.
Mas são de tolos a redentores.
São centavos que ralam à baia do vestido e se leva à algum lugar, leva a lugar roseado.
Vivo raso, onde brota o riso fácil, do espoucar de gargantas secas pelo mel de álcool que corrompe a compreensão e faz a derrota com restolho do pensamento e do medo, com amêndoas e tâmaras
Vou e não vou. Pago e retrocesso.
Ganho e perco. Mas choro porque acabei de encontrar a vida naquela alegria apavonada.
Sou o delírio do fim, no fugaz calor de mãos raladas de vazios.
E cada um tem seu precipício.
E cada um roda por ele a todo momento, como se fosse uma cruz a carregar.
E cada precipício tem um nome, doce ou não.
Mas seu nome doloroso é de morte.
Mas no fim, poeto por vagar. Danço para conquistar. Proseio de solidão, sou espelho sem reflexo,
onde tudo vaga solidão.
Sou a eterna espera, o fim das coisas.
E o início dos confins
onde brada o fogo
e morrem no jogo
de quem sobrevive.
Morro sem esperança
das faces rosadas
do meu rosário de
falso amor !
Mas, no ocasional,
sou homem de ontem,
que morre por amapoulas,vestido de cimento,
rodeado por flores sem fim.