Querido amigo,
Naquele dia, antes de visitar a sua casa, eu trazia na mão o suor e o receio.
O meu coração cruzou a porta dominado pelo cupim da ansiedade.
E quando entrei, eu me deparei com você no sofá tocando no violão acordes aleatórios, sem saber de nada.
Sem saber dos filmes de terror que meu cérebro exibia em minha mente.
Sem saber que que eu achava você o Mozart de tanto talento.
Só que naquela hora você falou “chega mais, mano” e foi me explicar que aquilo era fácil como tirar doce de criança.
Mas eu disse que uma criança tinha mordido meu nariz semana passada justamente por causa de uma bala juquinha.
E, naquela hora, você me achou digno de me contar uma coisa:
“Sabia que a gente fez uma música, cara?”. E meu queixo caiu. “Sério? Me mostra!”
Então, nós sentamos no tapete e vocês tocaram para mim uma música ainda tomando forma. Mas, confesso, foi a música que me tocou.
E, de alguma maneira, eu também fui capaz de tocar ela, sentir sua textura, sua temperatura, sua aderência. E não sei como nem por quê, mas aquilo me dava vontade de viver.
E você comentou que ainda estava fazendo a canção e já tinha composto o primeiro canto e o refrão, só que ainda faltava os outros cantos.
Eu não podia acreditar.
No dia seguinte, aquilo não saía da minha cabeça e tive que repetir essa história da música pra cada ser humano que cruzou o meu caminho.
Eu dizia: “Olha, que maneiro, ele é o maior compositor de todos os tempos, ele já fez até o primeiro canto!”.
E você não sabe o que um amigo me disse:
“Show, com quatro cantos ele faz uma sala, kkkk”.
Eu entrei no modo “carregando” e só depois de trinta minutos eu entendi o trocadilho e comecei a rir.
Mal sabem eles
Que naquele dia
Com um canto só
O da sua voz
Tu já fez uma sala de estar
Feliz
Com carinho,
Um amigo