Jose Kappel

Poeta de Palha

 

Morreu o Pobre da Vez na Festa do Poeta de Palha


e foi assim,
se não foi,
foi parecido.

 

foi, porque,
se disser,
pouca nela
vão acreditar,
nem mesmo
a falecida
memória.

 

teve roda-de samba,
laranja-da-terra,
pó de arroz,
enfeite de mulher,
tranças
perfumadas,
e amor às pampas,
na rampa
dos  desenganados.

 

teve estrela
que desceu do céu,
e foi dormir com
a criança
de véu.

 

teve lá fora,
teve lá dentro,
pois os que viram
viram, os que não,
se tornaram tornado
ou vento.

 

foi o dia dos afins,
com banda de música,
chocolate e pão de roça,
tudo sem fim.

 

teve mulher que largou
homem,
e foi pro escorrega
de criança, ver a vida
passar,
mas pobre donzela,
que morreu
entre as luzes
das panelas !

 

era gente
e mais gente,
e no meio
de tudo, não
havia um pingo
de gente acolhida.

 

tudo só,
silencio de bastar,
falar era pouco,
pois comiam doce
de fartar.

 

a história aqui
termina.

 

termina
com a festa que não teve,
com amores apagados,
e políticos corriqueiros
morreram,
com a vida alagada,
de vossa
excelência.

 

e aqui termina
onde nem começou,
se você entendeu
fez bem: é bom
até pra falar
em todas
as esquinas.

 

agora, bate
uma porta,
e fecha outra,
pois a vida é de
arder !

 

pego meu boné de
palha e já vou,
lá longe me esperar:
pois sou mané da cachaça
e homem de traços,
mas  sem asas pra
voar.

 

e você fecha as portas
que eu cuido das janelas,
conta outra mentirinha,
que eu vou viver
é na casa dos velhinhos !

 

e a página ficou
sem dono,
porque as letras
dela sumiram.


e o poeta morreu
de pobre,
feito
flor ao léu

dentro de uma folha branca.