Jose Kappel

Alça de Porteiro

 

Tempo do tempo arguto,
que me leva às águas claras
de um lago que já foi tudo
onde até rosa-marinho dava.

 

Tempo dos presentes, dos vivos,
tempo que andavam no coração e nos
campos de flores ricas,
tempo que me diziam: me dê um abraço
que eu te dou um beijo
e canto uma canção.

 

Tempo dos tempos,sem idas,
com deuses de argamassa,

que se enfiezeram,
pelo campo árido,
vazio e sem vida, sem encanto.

 

Hoje, se quiser vê-los
tenho a permissão da alça de porteiro,

onde até

sou meio dono.


É só chavear a porta, sem medo,
e abrir os portões,
e a paz do campo santo vesgueiro

surge no de repente,

e a gente pulsa de tristeza

ao ver lá

 dormirem,

coberto por vergões,

o feto, a vida, a morte

de nossa falsa eternidade,

pois eu carrego a alça

e você o corpo.