manicômio
me perdoem os enforcados pelo meu puro egoísmo
por amar o nó da corda e ver o mundo em meu umbigo
eu dou desculpas as minhas mãos por tremerem no gatilho
abandonando os meus miolos ainda preso em meu martírio
me perdoe minha mãe por eu querer saltar do colo
meus pulsos procurando a lâmina em meus dias de ódio
uma vida inteira em fúria em meio ao tempo mórbido
trancado em minha cela meus lenções que cortam o ócio.
agradeço as sombras que percorrem o manicômio
por entre os corredores beijando os tijolos
trago comigo em minha cabeça os meus demônios sóbrios
por entre tantos anjos bêbados que beijaram o solo
que me perdoem os pobres e fracos afogados
ainda sinto os meus pulmões mesmo despedaçados
a cada noite insana entre a fumaça de um cigarro
cinzas pelos cantos se espalham em meus passos
andando até minha cova desenhada em um calendário
lembranças que se movem nos bolsos de um casaco
sem a camisa de forças eu cruzo os meus braços
espero a morte vir de longe e se deitar ao meu lado
vejo em seus olhos o desprezo pelo meu velho habito
se o medo me algemou de novo em meu frio hálito
vejo o seu breve sorriso tão sincero e tão pálido
mais um dia se vai e eu fico aqui no corredor do manicômio ...