Flavio Eduardo Palhari

manicĂ´mio

manicômio

me perdoem os enforcados pelo meu puro egoísmo

por amar o nó da corda e ver o mundo em meu umbigo

eu dou desculpas as minhas mãos por tremerem no gatilho

abandonando os meus miolos ainda preso em meu martírio

me perdoe minha mãe por eu querer saltar do colo

meus pulsos procurando a lâmina em meus dias de ódio

uma vida inteira em fúria em meio ao tempo mórbido

trancado em minha cela meus lenções que cortam o ócio.

agradeço as sombras que percorrem o manicômio

por entre os corredores beijando os tijolos

trago comigo em minha cabeça os meus demônios sóbrios

por entre tantos anjos bêbados que beijaram o solo

que me perdoem os pobres e fracos afogados

ainda sinto os meus pulmões mesmo despedaçados

a cada noite insana entre a fumaça de um cigarro

cinzas pelos cantos se espalham em meus passos

andando até minha cova desenhada em um calendário

lembranças que se movem nos bolsos de um casaco

sem a camisa de forças eu cruzo os meus braços

 espero a morte vir de longe e se deitar ao meu lado

vejo em seus olhos o desprezo pelo meu velho habito

se o medo me algemou de novo em meu frio hálito

vejo o seu breve sorriso tão sincero e tão pálido

mais um dia se vai e eu fico aqui no corredor do manicômio ...