Hoje quero brincar no
seu quintal;
quero brincar porque é
diferente.
Para entrar tem portão
de antigamente;
tem caixa de correio
imitando uma casa,
tem campanhia de soar
aos que dormem,
tem até tem um velho campanário
que é só chegar
que lá o sino toca.
Hoje quero ser criança,
e andar no seu quintal;
quero brincar com a terra,
quero me sujar de lama
quero ter esperanças.
Mas lá tem o que quero:
tem laranja-lima, figos
e amêndoas;
tem porta para entrar
e sair;
tem até água com açúcar
para as andorinhas
enquanto brincam de pique.
Hoje sou alegre
quase
um visigodo feliz,
pois tenho a chave de seu
jardim
e por ele posso passar
minha infância
sem nada ferir.
E todos os dias, agora,
vou lá brincar de criança.
E se deixarem vou segurar
sua mão
e pedir
que nunca me faça sozinho e
me doutrine a
percorrer a solidão
de quem quer encontrar
o mundo.
Só brilho com duas mãos dadas
e um pedacinho de beijo.
E prá mim ser homem de verdade
é nunca largar,
seu jardim, suas flores, seu aroma.
E tudo ao som
de um suave realejo !