Sigo o caminho do vento,
temeroso e retraido.
Sua passagem às vezes
cálida, às vezes rompante.
E sempre deixa rastros
cujos donos são nós mesmos:
frágeis,decorosos e temerosos
de sua força,
de sua presença invisível,
somos o papel doloso que ele remoeja.
Sigo o caminho do vento
pois ele foi feito para
conquistar adeptos,
ora diante de sua beleza,
ora de sua aridez.
Meu corpo se torna uma simples pena,
de algum pássaro ferido,
na camada de vento sem rumo
e sem prumo.
Apenas segue.
Segue indolor e sem nome.
Pra onde me leva, não sei.
Nem sei porque vou.
Se fui a um chamado
a um canto de dor.
Ou se há uma festa em seus braços!
Se o vento faz a festa
eu faço o drama.
Se o vento trás a esperança
eu lhe entrego a dor.
Porque tantos me chamam
dentro deste redemoinho
de caminhadas, perdas e
holocaustos que só o interior
pode refletir e bradar?
Se leva, não volta mais.
O vento foi feito para isso:
às vezes para trair, outra para
fingir sufrágios.
Eu no portal do nada
espero por eles todos os
dias -
como se fossem dias comuns -
espero que ele faça de mim roda
de criança, louça de bonecas
ou aperitivo para os adultos.
Se ele existe o veroz, eu aqui
espero.
Quem sabe, se num belo dia,
sem data e sem deuses,
ele me carrega para seu interior
e me mostra
onde é o meu fim de mundo?