Carlos Lucena

ESTAÇÕES

ESTAÇÕES 

Quando eu cheguei aqui 
eu cheguei chorando.
Só chorava porque 
não sabia rir
Mas o trem que me trazia me trouxe cantando.
O trem tinha mão 
E eram mãos carinhosas
Guiadas pelo coração
Mas além de carinhosas 
Eram seguras 
e corajosas
Pois daquilo que fazia pouco entendia
Mas fazia bem feito porque era o coração 
que lhe dizia.
Era um trenzinho pequeno, sem luxo 
mas delicado 
sorria sempre 
quando na estação deixava o passageiro arrumado.
Trem sorrir? 
Dar para entender?
Eu entendo sim
Pois foi desse trenzinho que desci e 
me fez me conhecer.

O tempo me deu 
por algum tempo 
essa estação 
E vi outros trens sair
E vi outros trens chegar
Mas eu fiquei por aqui
Sorria e chorava.
Fui feliz
Fiz tudo quis 
Nadava, brincava
Estudava.
Era uma estação 
bonita demais.
E eu nem sabia 
que um dia 
ela ficaria para trás.
Até que ficou...
E para outra estação 
eu tive que partir
Tomei o trem
Sem querer ir
Porque lá 
eu não conhecia ninguém
Mas eu fui.
Cheguei, desci...
Com minha 
pouca bagagem
Não sabia 
mais uma vez de nada.
Fiquei um pouco 
confuso nessa viagem
E confuso 
por algum tempo fiquei.
Da outra estação 
apenas alguma imagem 
De poucas coisas 
que guardei.
Tomei decisões
Mas nada decidia
Andei por muitos lugares mas em nenhum lugar 
eu ia.
Fiz descobertas.
Fazia tudo.
Mas esse tudo era apenas fantasia 
e a doce teimosia 
em que vivia
nada mais era 
que rebeldia.
E nessa estação de tudo um pouco fui vivendo.
Nem imaginava na dor
Mas de repente 
a dor fui conhecendo
Sem saber que estava arrumando as malas 
para tomar outro trem 
e partir para a próxima estação que vem.

E assim, tive que partir
Tomei o trem 
e para lá eu tive que ir
Mais uma vez chegando lá não conhecia nada 
e nem ninguém.
Mas eu tive que me virar
Fui com um pouco 
de medo
Mas na estação que deixei para trás eu não podia ficar.
Cheguei indeciso, pensativo
E aí procurei 
me encontrar.
Caí, levantei
Sorri e chorei.
E foi lá que 
procurei a vida
Desisti, insisti
Amei, desamei 
Fui alegre mas conheci também a tristeza
E na fraqueza
Descobri a fortaleza.
Venci!
Perdi!
Ora grande
Ora pequeno!
Mas cresci.
Fui apresentado 
para a dor
Mas conheci 
a essência da flor.
E foi assim que 
nessa estação eu vivi.!

Aqui eu já sabia que outra estação 
me esperava.
Arrumei a bagagem
E sabia o que 
me aguardava
Tomei o trem 
Fiz minha viagem
Sem temer a nada 
nem ninguém .
Ah! Cheguei!
Todas as estações em que passei e 
em que vivi 
ficaram lá
Cada uma no seu lugar. Guardei as lembranças em um pote
Não preciso delas 
me lembrar
Pois oxalá é uma sorte
Aqui nessa estação chegar.
Meu cabelo branco é um tesouro
Minhas rugas são como o ouro
Meu corpo mesmo sem a pureza de antes
E meus olhos sem o mesmo brilho do passado
São como diamantes
Que como jóias carrego
E a mim mesmo eu entrego
Para guardar no coração o que vivi em cada estação!