Nelson de Medeiros

O TELEFONE

 

O TELEFONE

 

Eu tenho um fone antigo, sem serventia,

Que em meu quarto sozinho me faz companhia...

Já foi da felicidade carteiro!

 

Porta-voz de alguns devaneios,

Muito me disse de males alheios,

E, da morte inda foi mensageiro!

 

Há muito não serve a minha pessoa,

Nenhum tilintar de seu bojo ressoa...

Também vive só, não ouve e nada fala!

 

Guarda com ele grandes segredos,

Historias de amor de vários enredos,

E até da paixão que avassala!

 

Porém, ontem na madrugada vazia,

Saiu enfim de sua apatia...

Seu tintinar ouvi de repente!

 

Atendi no instinto do amor... Contudo,

O lado oposto ficou mudo,

E, senti a dor da saudade somente!

 

Mas, ela  é palavra abstrata,

Apenas  quem sente a retrata...

É prenhe de sonhos e vãs  esperanças!

 

Por isso a razão me chamou à verdade:

- Foi ela a estafeta desta saudade!

Mas, saudade não telefona... Só manda lembranças!

 

Nelson de Medeiros

 13/06/2020