O TELEFONE
Eu tenho um fone antigo, sem serventia,
Que em meu quarto sozinho me faz companhia...
Já foi da felicidade carteiro!
Porta-voz de alguns devaneios,
Muito me disse de males alheios,
E, da morte inda foi mensageiro!
Há muito não serve a minha pessoa,
Nenhum tilintar de seu bojo ressoa...
Também vive só, não ouve e nada fala!
Guarda com ele grandes segredos,
Historias de amor de vários enredos,
E até da paixão que avassala!
Porém, ontem na madrugada vazia,
Saiu enfim de sua apatia...
Seu tintinar ouvi de repente!
Atendi no instinto do amor... Contudo,
O lado oposto ficou mudo,
E, senti a dor da saudade somente!
Mas, ela é palavra abstrata,
Apenas quem sente a retrata...
É prenhe de sonhos e vãs esperanças!
Por isso a razão me chamou à verdade:
- Foi ela a estafeta desta saudade!
Mas, saudade não telefona... Só manda lembranças!
Nelson de Medeiros
13/06/2020