O espelho e a alma
O tempo é vida à revelia do que se julga ter, e que se esvai feito as águas dos rios, é quando a imagem refletida, reafirma que nada do que foi vivido era de fato dela, nem o corpo em que ainda habita. Tínhamos pouco em comum, uma pé no chão, olhar realista, apontando o tempo todo, quão tolos eram os sonhos antigos, e os sonhos novinhos em folha, que a outra com muita empolgação, sempre contava para ela.
Uma sem fantasias, espiando a outra, amiúde, era adolescente e exagerada. Ambas ali, silenciosas, interrogavam-se diante do espelho, sem decifrar, qual delas chegaria até o fim, será que a sonhadora venceria, ou a outra de olhar tão marcado, que insistia em ficar dentro de mim? _ Uma irrequieta, tão louca, porém feliz, apaixonada pela vida, pelo amor... enquanto a outra, séria, um tanto realizada, mas sem ilusão, rabugenta e desolada.
De repente as duas num confronto; Uma lúcida, contudo, conformada, de olhar distante de tudo o que a fez sofrer naquele triste passado, agora satisfeita, nem tão feia, nem tão bela! Com a consciência sobre o que a acalma, e o que lhe fere, a outra pensativa dizia... _Eu sei que a vida continua para além daquela porta, vida escorregadia, feito alguns dos meus sonhos que se vão pelas frestas da janela.
Autora: Liduina do Nascimento